Conheça quem faz a Rede de Sementes do Xingu, um dos mais bem sucedidos movimentos para restauração da vegetação nativa da Amazônia e Cerrado

Indígenas promovem uma muvuca de sementes no Xingu

VEGETAÇÃO

As 89 mulheres e 4 homens do Movimento das Mulheres Yarang, no Parque Indígena do Xingu, em Mato Grosso, fazem como as formigas, que andam juntas na mata recolhendo e selecionando as sementes caídas no solo.
“Yarang”, na língua do povo Ikpeng, significa “formigas-cortadeiras”.
Os Ikpeng descendem das árvores. Cada árvore plantada é como se o povo ganhasse mais vida. As mulheres coletam as sementes para ver as beiras de rios recuperadas, para que no futuro todos tenham roças e peixes. Elas querem ver suas sementes virando florestas.
Oreme Ikpeng, articulador da Rede Sementes do Xingu
É assim que funciona a Rede de Sementes do Xingu, que reúne quase 600 coletores de sementes usadas na recuperação de áreas desmatadas ou degradadas. A iniciativa já plantou mais de 260 toneladas de sementes de 220 espécies nativas, especialmente nas margens das bacias do rio Xingu e Araguaia.
“Minha avó, minha mãe, minhas tias são coletoras da Rede. Eu acompanho o trabalho delas, estou sempre junto com elas ajudando a limpar as sementes. Todas unidas em prol de um objetivo só. A Rede nos mostrou a importância do trabalho que os indígenas já vêm fazendo há gerações. Nosso dever é cuidar da natureza, dos rios, reflorestar.”

Kayualu Ikpeng

Cerca de 1 milhão de árvores estão plantadas com sementes recolhidas pelos indígenas Ikpeng, uma das etnias ligadas à Rede de Sementes no Parque Indígena do Xingu.

Os grãos preparados para o plantio formam a “muvuca”, expressão de origem africano-indígena para uma aglomeração de pessoas, um agito. Cada 80 quilos de sementes recuperam 1 hectare de floresta.

O reflorestamento da Rede é para o bem de todos. Para os brancos, para os indígenas, para o planeta. Precisamos dessa natureza em pé, do rio correndo. O desmatamento está causando muito impacto nas aldeias, porque os rios estão secando. Queremos o bem para os nossos filhos, nossos netos. Queremos deixar essa floresta para eles.
Kayualu Ikpeng
Mais de 7 mil hectares foram recuperados pela muvuca em terras indígenas Xavante, na APA Triunfo do Xingu, nas reservas extrativistas dos rios Xingu e Iriri, no Pará, e na região de Apuí, no sul do Amazonas.


Pelo Código Florestal, que completou 10 anos, o Brasil precisa recuperar 12 milhões de hectares de matas no Brasil.


REPORTAGEM
Aldem Bourscheit

EDIÇÃO
Sílvia Lisboa

IMAGENS
Fotos: Juan Echenone (indígenas Ikpeng), Tui Anandi (ISA) e Amazônia Real; Vídeo: Fazedores de Floresta

MONTAGEM
Laiza Lopes

IDENTIDADE VISUAL
Clara Borges